O jardim dos sentidos: manacá, jasmins e outras flores perfumadas

22/09/2016

Quer beleza impactante, perfume agradável e um clima dos tempos da vovó em seu jardim? O manacá-de-jardim, ou manacá-de-cheiro, reúne isso tudo numa planta só. De tão frugal e discreto, esse arbusto de até 3 metros de altura passa despercebido pelo meu radar na maior parte do ano. Mas, lá pelo final do inverno – ou seja, agora -, ela se impõe nos jardins paulistanos.

Típica das matas de altitude do sul e sudeste do Brasil, a espécie conhecida pelo nome científico de Brunfelsia uniflora aprecia uma condição amena: você deve plantá-la numa meia-sombra bem iluminada, ou mesmo sob sol direto, desde que o solo contenha alguma umidade e matéria orgânica. Em flor, o arbusto lembra o aspecto do manacá comum, originário das encostas serranas da Mata Atlântica. Suas flores se abrem na cor lilás, mas vão se tornando brancas quando mais antigas, o que confere ao conjunto um aspecto bicolor típico. As flores dessa planta da família das solanáceas – a mesma do tomate, da pimenta dedo-de-moça etc. – são menores que as do manacá da serra e exalam um perfume impossível de não se notar nas proximidades.

A floração dos manacás de cheiro é lembrete de uma qualidade cara ao paisagismo: todo jardim que se preze não deve oferecer apenas cores, texturas e alimento para animais e humanos – só serão completos se proporcionarem também estímulos ao nosso olfato. Pensando nisso, fiz um breve apanhado de plantas perfumadas e seus usos mais indicados:

JASMIM ITALIANO (Jasminum grandiflorum)

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Apesar do nome, vem da Ásia. Mas ganhou o nome popular por ser muito cultivado na Itália, onde também se extrai uma essência perfumada de suas flores brancas. Com ramos finos e rendados, além de flores brancas cujo odor é transportado a dezenas de metros na primavera e verão, o jasmim italiano funciona bem em pergolados, cercas ou simplesmente como um arbusto que fica com o visual de uma imensa bola de arame. É o meu predileto. Só evite plantar próximo dos quartos ou áreas sociais, se o perfume for incômodo.

JASMIM DO IMPERADOR (Osmanthus fragrans)

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O nome desse arbusto ou arvoreta deriva de uma curiosidade histórica: a planta de origem oriental era muito apreciada pelo imperador Dom Pedro II. Daí se depreende, portanto, que seu cultivo no Brasil é bem antigo. Com odor adocicado, sutil e folhas e flores delicadas, o jasmim do imperador é uma maravilha que não pode faltar em nenhum jardim temático japonês. Seu ponto fraco é o crescimento muito lento. Ainda que, desde jovem, a planta produza um perfume que viaja pelo ar até distâncias notáveis. Perto de um muro, em local à vista, é seu pedaço perfeito.

DAMA DA NOITE (Cestrum nocturnum)

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É um clássico do tipo escandaloso: nas noites da primavera até o outono, ninguém deixará de notar seu perfume doce e profundo a léguas de distância. A dama da noite vem das ilhas do Caribe e também é da família do manacá brasileiro, as solanáceas. Suas flores tubulares se formam em cachos nas pontas de ramos que podem ser conduzidos como trepadeiras, se tiverem estruturas de apoio, ou sob forma arbustiva. É uma experiência única, mas requer ponderação: se você não quiser ter uma overdose de perfume, plante a pelo menos uns 20 metros de sua casa ou dos quartos de dormir.

GARDÊNIA (Gardenia jasminoides)

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Outro clássico sem disputa. A gardênia é uma planta chinesa cultivada no Brasil desde priscas eras. Seu perfume é agradável, mas a planta pode ser um pouco mais fresca e desafiadora que a maioria dos jasmins. A primeira pegadinha é saber escolher a variedade mais adequada para cada espaço do jardim. A forma típica é um arbusto grande, que atinge mais de 2 metros de altura. Hoje em dia, cultiva-se mais a forma anã, que não passa de 70 cm. A gardênia requer solo com bastante matéria orgânica e ótima drenagem. E detesta a seca: falta de regas ou baixa umidade do ar fazem a planta atrofiar e até morrer. Outro pepino: ela é muito atacada por pragas como lagartas.

MANACÁ DE JARDIM (Brunfelsia uniflora)

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Chegamos, enfim, ao jasmim brasileirinho. Além das informações que você encontra no começo do post, é bom ficar atento a um detalhe: ainda que não tenha a velocidade de tartaruga do jasmim do imperador, o manacá também apresenta crescimento lento. Minha dica é colocá-lo em pontos do jardim nos quais você não busca um resultado imediato. Mas o investimento futuro vale demais a pena: em certo final de inverno, quando você menos esperar, o colorido classudo e o perfume do manacá vão chegar chegando.

MARTHE, M. O jardim dos sentidos: manacá, jasmins e outras flores perfumadas. Veja, Setembro de 2016. Disponível em: http://veja.abril.com.br/blog/jardineiro-casual/o-jardim-dos-sentidos-manaca-jasmins-e-outras-flores-perfumadas/. Acesso em 22/09/2016