Planta não é objeto, planta é um ser vivo!
A paisagista Caterina Poli aborda o cuidado diário e carinho necessário com as plantas, em sua estreia como colunista de Casa e Jardim
Confesso que estou lisonjeada (ops, entreguei minha idade) por ter sido convidada a escrever mensalmente para a Casa e Jardim, e me sinto um tanto quanto tensa por essa responsabilidade em honrar o meu nome e o da revista.
Escolhi um tema recorrente ao longo desses 20 e tantos anos de trabalho como paisagista: parece brincadeira, MAS sempre me perguntam se planta vai em lugar fechado: lavabo sem janela, hall de elevador etc.
O cantinho entre a cozinha do escritório e a sala de reuniões, da casa de Catê, ganhou mesa e cadeiras da Tok & Stok e um jardim vertical com samambaias e barbas-de-serpente intercaladas. Ao fundo, ladrilhos hidráulicos da Ladrilar. Do lado esq., palmeira fênix com aspargos-pluma na base. À dir., íris (Foto Gui Morelli / Editora Globo)
Outro dia aprendi uma frase muito eficiente: planta não é objeto, planta é um ser vivo. Planta tem de fazer fotossíntese. Lembra do ciclo da vida que você aprendeu na aula de ciências na infância? Pois é, vamos resgatar na memória e colocar em prática!
O que parece óbvio e básico para muitos, não é assim tão claro para alguns. Planta não vive em lugar fechado sem luz e sem ventilação. Imagina se você, ser vivo (e humano), ficasse a vida toda em um quarto fechado?
Planta precisa de água e de vitaminas, de adubo, assim como o seu animal de estimação precisa comer. Às vezes até um remedinho para alguma praga. E, por menos trabalho que você tenha com suas plantas super-resistentes, algum cuidado você vai ter. Como as plantinhas ficam ali quietinhas, mudas e caladas, imóveis, a gente acaba até esquecendo que as bichinhas são vivas e requerem alguma atenção.
Próximo ao spa, vaso da L’Oeil com suculentas. Logo atrás, o limoeiro, os jerivás e a camélia já estavam no terreno. Foi preciso criar o jardim a partir dessas espécies. Poltrona Cronoline, da designer Patricia Urquiola para a B&B Italia. Projeto da paisagista Catê Poli (Foto: Gui Morelli/Editora Globo)
Se você colocar os cuidados com suas plantas dentro da rotina do dia-a-dia, logo vai pegar gosto e, de repente, até arranja um hobby bacana e ecologicamente correto. É quase como fazer exercícios regularmente. No começo é chato, mas depois você se acostuma e fica feliz com os resultados.
Escutei ao longo de todos esses anos perguntas e frases absurdas e por vezes engraçadas de vários clientes: “Tem que regar? Ah, tem que ter espaço para a raiz, né? Nossa, a flor murchou! Como que não dá flor e fruta o ano inteiro?”. Aposto que você achou engraçado. Seria cômico se não fosse trágico!
Mas sabe que, apesar de tudo, ao longo desses anos eu percebo um crescimento do interesse das pessoas por plantas e jardins. Cada vez mais gente disposta a pagar uma consultoria, um projeto, uma visita técnica. Sinal de valorização da profissão, bons tempos à frente!
Neste projeto, Catê Poli dispôs de forma aleatória samambaias, trapoeraba, hera-estrela, aspargo-pendente, filodendro-xanadu, véu-de-noiva, barba-de-serpente e chifre-de-veado (Foto Edu Castello/Editora Globo)
Fico feliz que a minha profissão tenha um propósito estético, mas também ecológico. Fico feliz porque as pessoas agora contratam um paisagista não somente por estar na moda, porque o verde é tendência, mas também porque querem qualidade de vida, bem-estar.
E tem coisa melhor do que poder participar da melhoria na qualidade de vida do cliente? Para finalizar, já que o mundo muda cada vez mais rápido a cada segundo, quem sabe as novas gerações já quase nasçam sabendo que planta é ser vivo, planta não é objeto! Sonho de todo paisagista.